#14: Algo a mais
De volta das longas férias no Brasil, estou mais perdida na vida do que nunca.
Tá rolando um clima estranho ultimamente.
Não, eu não estou falando dos 42ºC em São Paulo ou dos 2ºC em Berlim em meados de novembro. Eu quero dizer que eu estou num clima estranho.
Faz uns dias que eu voltei de uma longuíssima temporada no Brasil e estou me readaptando à vida na Alemanha, com seu vento de gelar os ossos, seu anoitecer às 4:30 da tarde, seu idioma absolutamente incompreensível.
Aos poucos, estou voltando à mesma rotina que eu deixei alguns meses atrás. Continuo trabalhando, cuidando da casa, encontrando amigos, aprendendo (ou tentando aprender) alemão. Com mais dificuldade, tento retomar o hábito da atividade física, de tocar violino e, claro, dessa newsletter - com a absoluta certeza de que eu me comprometo com muito mais coisas do que deveria. Mas por algum motivo me falta ritmo.
É como se o meu corpo e a minha mente já estivessem no clima de fim de ano, só esperando 2024 chegar e com ele, magicamente, alguma novidade. Alguma inspiração. Alguma mudança.
Como se eu já não tivesse mudanças o suficiente na vida.
Mas parece que elas nunca me bastam, e eu sinto que estou constantemente buscando algo a mais. Ou simplesmente fugindo do tédio. Acho que eu tenho horror ao tédio, à constância, à mesmice.
***
Nas últimas semanas em São Paulo, comecei a pensar no que eu quero para a vida. Algo como um propósito ou missão. O tal algo a mais.
Sei que não vou encontrar isso numa carreira, isso já está claro. Nem acho que eu tenha alguma vocação artística nem nada parecido. Viajar, por mais importante que seja para mim, não é bem um propósito. Religião, nem tenho. Natureza, detesto.
Ultimamente o assunto família tem se tornado desconfortavelmente recorrente. Acho que é porque passei muito tempo com parentes e amigas e, considerando a nossa idade, é meio que o assunto do momento. Estou sendo bombardeada por pessoas indo morar com parceiros ou se casando ou tendo filhos ou planejando filhos… Enfim, acaba sendo inevitável pensar se eu não encaixaria nessa vida também.
Eu passei uma semana no Chile com meus pais, primos, os filhos adolescentes deles e meu sobrinho de 4 anos. Ao final da viagem, enquanto bebíamos um bom vinho e olhávamos as crianças brincando, meu primo me perguntou se eu não queria aquilo. Crianças.
Eu pensei e pensei, e cheguei na mesma conclusão de sempre: não quero. Não é pra mim.
Bom, corta filhos da lista de algo a mais então.
Mas se eu não me encontro na carreira, numa vocação nem na ideia de uma família própria, então o que sobrou?
***
Reparei que quando estou tentando encontrar respostas para minhas próprias divagações, sempre tem uma tela me atrapalhando, e estou finalmente tendo noção do tamanho do meu vício em “scrollar” o feed do instagram ou clicar no próximo vídeo do youtube. São horas e horas da minha semana que cansam meus olhos, me dão dor de cabeça, dor nos pulsos, dor nas costas, e me fazem sentir culpada e de mal comigo mesma.
Comecei a criar rancor por tecnologia - hipocrisia, eu sei, já que escolhi trabalhar justamente com tecnologia para bancar a minha vida além da carreira. Mas no meio de tantas dúvidas sobre o que eu quero da vida, uma ideia fica cada vez mais forte: eu quero algo longe das telas de um computador.
Acho que seria mais fácil me acostumar com o tédio.
Sigo na busca.
Tschüßi!
Adorei o texto e a reflexão Lu, pensar em propósito às vezes gera um climão … mas acredito que o caminho é mesmo divagar e aprofundar até encontrar (não o propósito mas pelo menos paz sobre isso…) bj bj
Me identifiquei quase por completo com exceção da natureza que eu amo. E bora lá, encarar esse prato as vezes sem graça e essa gélida Berlim (pelo menos hj teve sol). 😘